- 18 de julho 2021
Evandro Henrique Figueiredo Moura da Silva é doutorando do Programa de Pós-graduação de Engenharia de Sistemas Agrícolas da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) orientado do Prof. Fábio Marin.
Ele realizou um estudo sobre o desenvolvimento da soja e do balanço hídrico do solo para um ambiente tropical, segundo o qual o ganho médio de uma lavoura irrigada pode atingir 20% em relação a lavouras de sequeiro em condições de safra. “Nosso estudo revelou que podemos diminuir drasticamente o risco produtivo. Para a condição de Piracicaba, por exemplo, a variação de produtividade simulada foi de 17 a 80 sc/ha para a condição de sequeiro; enquanto para lavouras irrigadas a variação foi de 63 a 87 sc/ha”, afirma o pesquisador.
Confira a entrevista na íntegra para conhecer um pouco mais dos resultados obtidos.
Há quanto tempo é desenvolvido o estudo com o uso da irrigação?
O estudo foi desenvolvido em duas etapas: realizamos a etapa experimental entre 2016 e 2019. A segunda etapa de análise de dados e escrita do artigo científico foi realizada em 2020 com colaboração de pesquisadores da ESALQ, Universidade da Flórida e Embrapa.
Quais são os principais resultados já observados?
Antes de falarmos dos resultados obtidos, se faz necessário uma breve explicação sobre o uso de modelos agrícolas.
Modelos agrícolas são ferramentas baseadas em processos biofísicos. Em outras palavras, tenta-se simular o desenvolvimento da cultura em diferentes condições ambientais e de manejo. Para isso, o modelo precisa ser calibrado para a cultura e região de estudo. Esse processo de calibração é um ajuste de parâmetros do modelo com base em dados obtidos em campo, por isso a importância de experimentos reais bem conduzidos. Nesses experimentos coletamos dados de umidade do solo em diferentes profundidades e análises biométricas da soja ao longo do ciclo. O modelo foi calibrado e avaliado para duas condições tropicais diferentes, para ambas condições conseguimos um excelente acurácia do modelo, sendo esse o primeiro resultado.
Como segunda etapa desse trabalho, construímos diferentes cenários para a cultura da soja em condições de sequeiro e vários tratamentos irrigados [com irrigação iniciada de 30 a 80% da capacidade de água disponível (CAD)] para semeadura em sistema convencional e para plantio direto. Nossas análises mostraram que iniciar a irrigação quando o conteúdo de água no solo estiver entre 50 e 60% da CAD pode ser a melhor opção de manejo de irrigação.
Como parte do estudo, vocês fizeram experimentos em Piracicaba (SP) e Teresina (PI). Quais foram as principais diferenças observadas entre os dois? O que justifica essas diferenças?
É importante destacar que houve uma diferença experimental entre as duas áreas de estudo. O experimento em Teresina foi conduzido em condição de segunda safra e em duas condições de irrigação: (i) cálculo de irrigação para atender a 50% das necessidades hídricas da cultura, e (ii) para atender 100% das necessidades hídricas (irrigação plena). Já em Piracicaba, o experimento foi conduzido nas condições de sequeiro e irrigação plena. A diferença experimental se deve ao fato de Teresina ter um inverno muito seco, não seria possível conduzir um experimento de sequeiro nessa época do ano.
Na sua opinião, quais são os benefícios do uso da irrigação? Que ganhos podem ser obtidos em termos de produtividade?
Nós consideramos uma série de 30 anos de simulação e obtivemos que o ganho médio de uma lavoura irrigada pode atingir 20% em relação a lavouras de sequeiro em condições de safra. Já para condição de segunda safra, no nordeste brasileiro, a produtividade de soja poderia atingir 59 sc com a lavoura irrigada. Mas há um benefício muito maior em relação ao uso da irrigação. Nosso estudo revelou que podemos diminuir drasticamente o risco produtivo. Para a condição de Piracicaba, por exemplo, a variação de produtividade simulada foi de 17 a 80 sc/ha para a condição de sequeiro; enquanto para lavouras irrigadas a variação foi de 63 a 87 sc/ha.
Quais são os principais desafios para que os produtores façam uma gestão sustentável da água na agricultura?
O estudo mostrou que a quantidade de água aplicada pelo equipamento de irrigação pode ser reduzida em até 43% com práticas de plantio direto. O estudo também faz um exercício de quanto de água pode ser economizado com lâminas de irrigação menores. No entanto, isso é uma faca de dois gumes, porque uma vez que o volume da lâmina diminui, o turno de rega é menor e, consequentemente, gasta-se mais energia. Então, essa questão precisa ser analisada caso a caso, para evitar que haja desperdício de água e/ou de energia. Então a gestão sustentável da água na agricultura é bastante complexa, e tem requerido cada vez mais estudos aprofundados; trabalho apresentou uma preciosa ferramenta de tomada de decisão do uso da água.
Que conselhos você daria para um produtor rural que esteja querendo implantar um projeto de irrigação?
Meu conselho vai na forma de perguntas, vamos fazer um exercício mental: quantos produtores sabem o risco de produção da sua propriedade? Qual a probabilidade de ter uma quebra de safra quando se tem apenas lavouras em condição de sequeiro? Como um sistema de irrigação poderia garantir um sono mais tranquilo ao produtor? Conduzir duas safras de alta produtividade ao ano pode gerar incremento na renda do produtor?. E podemos, ainda, estender o nosso exercício mental aos produtores que já implementaram o projeto de irrigação: estão fazendo um manejo sustentável da água? Estão desperdiçando energia ou água? estão conseguindo atingir seu potencial produtivo?. Em suma, o meu conselho seria faça uma análise de risco e do potencial produtivo do seu empreendimento e veja o quão viável pode ser um sistema de irrigação.
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